Depois que eu desmanchei o telhado da casa do João, que estava em parte errado, eu me encontrava no Rio quando ele ligou dizendo que tinha encontrado uma árvore na mata e que daria pra cortar e fazer o madeiramento do telhado. No mês seguinte parti para a aldeia e focamos nesse propósito. A árvore já estava caída a mais de um ano, isso foi bom porque assim a madeira curtiu por si mesma e não empenaria quando estivesse no lugar.
Logo de cara tivemos um problemão com a Moto-serra, o filtro não estava fazendo seu trabalho direito e a areia estava passando, com isso ela não funcionava. O que era pra ser um dia, levou quatro.
Para as crianças (filhos do João) tudo era festa e motivo pra brincadeiras, mas para nós a coisa era mais seria e diante das primeiras dificuldades estavamos tentando achar uma solução para resolver o problema.
Quando tudo foi solucionado e a madeira toda cortada, retiramos ela da mata e partimos para nosso objetivo principal. Inicialmente muitos olhavam com olhares de duvidas e outros até desejavam que desse errado, afinal quando cheguei e percebi que parte do telhado estava errado eu mesmo com a permissão do João o desmanchei e com isso arrumei desafetos no sentido de que o que eu fizesse desse errado. Mas eu sabia que o tempo iria mostrar a esses que eu estava certo e que o objetivo era só o de trazer benefícios a todos.
Retirei toda a madeira roliça, pois essa começava com uma espessura e terminava com outra o que não ia dar certo. Substitui pela madeira que retiramos da mata.
Eu e João trabalhávamos diante de uma plateia de índios que estavam envolvidos na primeira ideia de construção. Eles não entendiam onde erraram pra que eu pudesse desmanchar o que eles fizeram, mas quando as primeiras telhas subiram ai sim eles puderam compreender que as telhas teriam de estar em uma linha reta e plana e não sobre madeiras roliças que estavam em formato desigual. Então puderam perceber e entender o que eu estava dizendo, assim todo o desconforto foi dissolvido e risos começaram a surgir de seus rostos. A ideia é que eles pelo menos pudessem absorver o que estavam vendo em futuras construções.
Já que tinham o Motor-serra porque não aparelhar as peças de madeiras que seriam os caibros pra sustentação do telhado? Descobri que eles não gostam de que um estranho chegue de repente e comece a lhes ensinar, muitos não dão nem atenção, mas João foi me orientando sobre os modos e então passamos a não falar e sim demonstrar na pratica como tudo seria.
João é um índio além do seu tempo. Ele ouve, gostar de aprender, quer saber das coisas e tem vontade de realizar. Sua primeira atitude plausível foi a de me dar esse crédito peitando a todos que estavam envolvidos no projeto anterior que era a construção de sua casa no modelo pau a pique. No inicio ele não entendeu nada, mas fui pra casa e desenvolvi uma maquete de uma casa feita de tijolo de barro, quando ele viu a maquete seus olhos brilhavam, queria porque queria ter uma casa daquele jeito.Para mostrar a todos que era possível a realização ele foi o primeiro a encarar as dificuldades. Obviamente que o projeto levaria tempo pois ele só seria desenvolvido em meus momentos de folga ou de algum esforço extra para estar ali levando o sonho da casa ecologicamente correta e assim evitando o desmatamento. Não temos até hoje uma ajuda externa e tudo sai de meu bolso e de contribuições que peço a amigos de minhas redes sociais.
Muitos perguntam o porque de eu ter começado pelo telhado e não pelos tijolos. A resposta é bem simples. Quando lá cheguei a estrutura já estava pronta, o que fiz foi somente uns acertos, mas por outro lado isso acabou nos beneficiando porque na região chove bastante e quando não chove garoa e eu precisava de um espaço coberto pra fazer os tijolos e isso de certa forma nos beneficiou.
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